Mal sabiam eles que esse clubezinho viria estragar o futebol português, trazendo fruta, cafés com leite, entre outras coisas que se comem.
Parece impossível, mas não. É mesmo verdade. Foi a receita do clássico de 3 de Abril de 1960 que salvou o FC Porto do descalabro financeiro. Pelo meio houve um dirigente portista que pediu auxílio financeiro aos dirigentes Benfiquistas. Acabou despedido. Entre 1959 e 1960, período em que se sagrou campeão nacional pela última vez antes de uma seca de 19 anos, o FC Porto perdeu 7 mil sócios. Luís Ferreira Alves, o presidente, demitiu-se e lamentou-se no seu último dia: "O FC Porto paga mal a quem o serve." Semelhanças com as últimas lamentações de Vitor Baia? Muitas.
Nesta época o FC Porto tinha cerca de 500 contos ordenados em atraso com os seus futebolistas, uma barbaridade para a época. Com a demissão de Luís Ferreira Alves coube a uma comissão administrativa presidida por Ângelo César, tomar contas dos destinos do clube. Aproximava-se o FC Porto-Benfica para a 23ª jornada do campeonato nacional, a 3 de Abril de 1960, e Aníbal Abreu, dirigente azul e branco da referida comissão, emitiu um telegrama de pedido de ajuda financeira. O destinatário era Maurício Vieira de Brito, presidente do Benfica, o conteúdo era simples: que os encarnados prescindissem da sua parte da receita a favor do desvalido FC Porto. Ângelo César, ao tomar conhecimento do sucedido, reagiu de pronto e com enorme dignidade (não se esqueçam que eram outros tempos) enviou também ele um telegrama a Aníbal Abreu:
"Acabo de tomar conhecimento do telegrama enviado ao presidente do Benfica. Rogo V. Exa. apresente pedido de demissão por esta via. Se não, demiti-lo--emos. O FC Porto, embora atravesse uma situação francamente delicada, não precisa de pedir esmolas. A atitude do sr. Aníbal Abreu deixou-nos a todos indignados e o Benfica terá achado o seu pedido uma autêntica loucura, um disparate sem pés nem cabeça."
in Bancada de ImprensaDia do clássico. O Presidente da comissão Ângelo César foi ao balneário da sua equipa e pagou todos os ordenados em atraso. Talvez em dinheiro vivo, porque penso que na altura ainda não estavam instituídos os pagamentos em géneros.
O que é certo é que os jogadores portistas galvanizaram-se e quando a derrota parecia certa, o SL Benfica vencia 2-0 a 3 minutos do fim, Roberto (que ironia...) aos 87'' e Humaitá aos 90'' alcançaram um empate muito sofrido. No jogo das receitas os adeptos deixaram 780 contos. O FC Porto ficou com a sua parte, 490 contos e o Benfica ficaria com 155 contos. Sim, na altura, como agora a Federação era uma sugadora de dinheiro, ficou com o remanescente, 135 contos.No final, feitas as contas e com orgulho restabelecido, o FC Porto seguiu o campeonato onde acabaria por ser 4º classificado com 30 pontos. O 3º seria o CF Belenenses (36 pontos), o 2º o SC Portugal com 43 e o Campeão Nacional, SL Benfica com 46 pontos.
Classificação pouco provável de acontecer esta época. Não, não me estou a referir ao CF Belenenses.
(*) Treinador Benfiquista que trocara o azul pelo vermelho no Verão de 1959
Não conhecia esta história. Muito bem apanhada...
ResponderEliminarParabéns pelo blogue e informo que o vou linkar.
Gloriosas Saudações
Conto em breve complementar este artigo, com outro desse mítico personagem, Aníbal Abreu, que era figura bem conhecida da cidade do Porto das décadas de 50 e 60. Obrigado pela referência.
ResponderEliminarDUX_XXI o artigo está muito bom e com muito boa pesquisa, por isso realcei aqui no meu blog.
ResponderEliminarParabéns
Quando tiveres mais informação diz :)